Ayurveda e o Sagrado Feminino
- Gustavo Engelmann

- 2 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
Qual foi a última vez que se sentiu parte do TODO? Disso tudo que te rodeia. Das águas dos mares e rios, do céu e da terra em que pisa. Das árvores e plantas que nos permitem existir, nos fornecendo alimento e oxigênio para que possamos usufruir e experimentar o mundo em sua totalidade e assim evoluir. Do que é visível, mas também invisível aos olhos, mas não ao coração...ao sentir.
Você já sentiu essa sensação?
Já experimentou o sentimento de pertencimento àquilo que sequer conhece ou entende? De se sentir conectado a tudo o que te rodeia, seja no macro ou micro, ao mesmo tempo grande e pequeno, um grão de areia, mas também a praia inteira? Sabe do que estou falando?
Enquanto o foco de todos que buscam Ayurveda se volta para o conceito de Doshas, Agni, Srotas e tantos outros nomes difíceis de serem pronunciados e muitas vezes até de serem compreendidos, muito pouco ou quase nada se fala sobre o sagrado feminino, seja nos textos clássicos, modernos ou até mesmo cursos disponíveis por aí, mas já está mais do que na hora de lançarmos luz sobre esse tema.
Distante de si, distante do todo.
Se tivesse que resumir o conceito moderno de “Sagrado Feminino”, eu o faria da seguinte forma:
“Um movimento de cura, despertar, reconexão e empoderamento que tem como foco o aprofundamento e o entendimento sobre o corpo, as emoções e os ciclos, com o propósito de orientar e compreender de que forma se pode viver cada vez mais em harmoniza com a natureza, tanto interna quanto externa.”
Esse resgate tem se mostrado extremamente importante ao longo dos últimos anos, e pouco a pouco essa busca tem se mostrado valiosa e transformadora não somente para pessoas do sexo feminino, mas para todos os seres humanos que habitam nesse planeta.
O conceito ayurvédico não está muito distante disso, mas sinto que ele vai um pouco além.
Não falo isso como se fosse antagônico ou definindo como melhor ou pior, mas de forma complementar à visão moderna.
Ele pode ser resumido da seguinte forma:
“O Sagrado Feminino Ayurvédico é a sabedoria ancestral não só do corpo físico, mental ou emocional, mas de todo o cosmos e sua criação, que nos conecta com a nossa natureza divina e com o conhecimento que não se é aprendido, pois esse é inerente à nossa própria existência como parte do todo. Ele nos convida a resgatar o conhecimento ancestral de que não coexistimos com a natureza, mas sim de que somos ela. Que não precisamos nos reconectar a ela, pois somos indivisíveis e nunca deixamos de ser parte dela.”
Em Sânscrito o “resgate” ou “relembrar” desse conhecimento a muito esquecido e deixado de lado é denominado como Smarna.
Enquanto na visão moderna o empoderamento e a compreensão do próprio corpo e seu funcionamento levam a um aumento da confiança e do amor próprio, na visão ayurvédica o ato de confiar que seu corpo possui a inteligência divina e de toda a natureza é que leva ao amor próprio e ao reencontro com seu poder pessoal.
Independente do caminho escolhido, o destino é um só, e os passos que te levam até ele envolvem autoresponsabilidade, autoconhecimento e muito amor.

“O que eu necessito nesse momento?”
Ao passo que nossas escolhas diárias estão cada vez mais sendo direcionadas por estudos, teorias, experimentos e comprovações científicas, sempre realizados por e em outras pessoas que não nós, pouco a pouco vamos nos afastando e perdendo a habilidade de ouvir/sentir/ viver essa divindade que nos habita e direciona para o nosso melhor caminho.
De forma sutil e sorrateira, ao longo de décadas e décadas, a “indústria” foi bem-sucedida ao nos convencer de que sabem mais sobre nossos corpos e necessidades do que nós mesmos, e passamos a acreditar e confiar mais em caminhos e atalhos que nos são oferecidos quase que diariamente do que em nossas verdades, chegando ao ponto de que sequer sabemos mais se as escolhas que fazemos no nosso dia a dia são realmente as corretas.
Corretas para quem?
Aprender a confiar e ouvir nossos corpos é um importante passo a ser dado no caminho do empoderamento e do resgate pessoal, e entender e aceitar que assim como a água que corre pelo rio e desagua no mar, somos mutáveis e inconstantes, incapazes de seguirmos à risca o que nos é imposto como certo por pessoas que nunca sequer nos viram, e que talvez ou muito provavelmente nem sabem de nossa existência.
Honrar nossos desejos e necessidades é um ato de coragem e rebeldia nos tempos modernos, mas muita atenção aqui: não estou falando dos desejos dos sentidos, habituados a vícios e prazeres efêmeros e vazios. O desejo que falo aqui é o mesmo que conecta você ao todo.
Quantas vezes você deixou para depois as necessidades que seu corpo claramente mostrou para você, dando mais valor às necessidades impostas pela sua mente? Estou falando das coisas simples, como ir ao banheiro na hora que da vontade, comer na hora que a barriga ronca ou parar de comer quando se sente saciado, dormir a hora que dá sono...
Presença é um ato de amor-próprio, e é por aí onde a cura começa.
Não existe perfeição
O sagrado feminino na Ayurveda nos convida a dançar a dança da vida assim como a natureza e o cosmos nos ensinam, nos lembrando que na imperfeição é que o movimento acontece por aqui, onde a fluidez e a leveza são os compassos que fazem a música da existência tocar.
Aprender a se adaptar às situações e momentos da vida é um compromisso pessoal e individual, onde cada pessoa tem o dever de reaprender a olhar para si com amorosidade e acolhimento, deixando um pouco de lado expectativas e julgamentos e exercendo a aceitação.
Assim como a árvore deixa seu fruto cair ao se movimentar com o vento que sopra em sua copa, sem se preocupar se ele servirá de alimento ou se sua semente será capaz de germinar, crescer e se reproduzir, podemos aprender com ela que no caminho e nos acontecimentos da vida é que ela acontece, e que se distanciar do que realmente importa é se distanciar da própria realidade.
Honre a si mesmo. Honre seu corpo. Honre seu tempo.
Sua verdade é tão divina quanto qualquer outra, e você tem o dever de se lembrar que ninguém jamais saberá tanto sobre você, quanto você.
Por isso, ao invés de esperar que um estranho qualquer seja capaz de te dizer qual caminho deve seguir, procure dentro de si. Você já tem todas as respostas que precisa, basta confiar que elas são as que vão te levar onde deseja chegar.
Muito amor,
Gustavo Engelmann




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